quarta-feira, 25 de julho de 2012

Jornalismo Online: Com cobrança em discussão, O Globo aposta no impresso

Para discutir o futuro do impresso, os líderes das principais redações do país se reuniram na última terça-feira (24), no auditório do jornal O Globo, no Rio de Janeiro. O evento faz parte das comemorações dos 87 anos de fundação do veículo e do lançamento do novo projeto gráfico da publicação.
O encontro foi mediado pelo editor-executivo de O Globo, Luiz Antônio Novaes, e contou com a presença do diretor de redação do diário carioca, Ascânio Seleme; da diretora de redação do Valor Econômico, Vera Brandimarte; do editor executivo da Folha de S. Paulo, Sérgio Dávila; e do diretor de conteúdo do Estadão, Ricardo Gandour. Todos mostraram ter bons motivos para acreditar num futuro próspero. O debate foi transmitido ao vivo pelo site de O Globo.

Conteúdo online restrito
No último mês, a Folha passou a cobrar pelo acesso ao seu conteúdo virtual. Segundo Dávila, a audiência subiu depois que a versão online do site passou a adotar o sistema paywall (barreira paga) e o número de assinantes aumentou – conforme era desejado pela direção do jornal. Em pauta, o assunto despertou a avaliação do custo da produção de conteúdo de qualidade.

Sobre o tema, Seleme não confirmou – nem negou – se o site de O Globo, que também passará por mudanças de conteúdo e de layout a partir do próximo domingo, 29, vai adotar a mesma postura da Folha e cobrar do leitor o acesso a todo material digital. O executivo apenas afirmou que “restringir o acesso é uma questão em discussão”, e ponderou os contras da estratégia. “Vamos perder em publicidade, porque menos pessoas vão acessar”.
Para Vera, do Valor Econômico, a ideia de cobrar pelo conteúdo da web é uma necessidade para as empresas de comunicação. “A internet afetou o modelo de negócios dos jornais. Que do ponto de vista financeiro, não consegue se apropriar do que produz. Não existe jornalismo independente se a empresa não tiver uma solidez financeira. Cobrar pelo conteúdo é uma saída muito interessante”. Porém, ela não disse se essa cobrança faz partes do jornal que comanda.

Reforma gráfica
Entre hipóteses sobre o destino do impresso, Seleme falou sobre as mudanças de O Globo. Para ele, as mudanças irão valorizar esteticamente o jornal, mas que o conteúdo de qualidade sempre será o principal fator para atrair o público. “Redesenhar facilita a vida do nosso leitor, torna a leitura mais prazerosa, mas não aumenta a circulação, quem faz isso é o conteúdo”.

O diretor mostrou no telão, em primeira mão, as novas formas do jornal. Agora o veículo conta com mais espaços brancos, maior valorização dos suplementos na primeira página, mais cor, e fotografias mais amplas. Em toda sua história, o jornal só passou por uma reforma - ocorrida em 1995. Ao final do debate, foi exibido um vídeo institucional com imagens da redação trabalhando no novo projeto, que foi tido pelos profissionais como arejado, leve e confortável.

A importância do impresso e a relação com as novas tecnologias
Vera admitiu que as inovações interferiram na maneira de fazer jornalismo. “Disseram que com a internet cada cidadão seria um produtor de notícias e com isso o jornal seria dispensável. No entanto, a quantidade de informações na rede tornou-o ainda mais relevante, para analisar e filtrar os conteúdos”. A diretora do Valor comentou que a web fez os profissionais do impresso pensarem melhor antes de produzir alguma matéria, pois boa parte do conteúdo já apareceu no online.

Para Dávila, a popularização da internet obriga o jornal a se atualizar constantemente. “Toda grande inovação tecnológica leva os jornalistas a se tornarem melhores. É ai que eles param e discutem”, afirma. “Ainda não inventaram um meio que tenha o papel de curadoria que o jornal tem para indicar o que foi notícia no dia anterior. Além disso, o jornal quebra a zona de conforto do leitor e o informa de coisas além do que ele acha que deveria saber,” destaca.
Na busca por um jornalismo de qualidade, Gandour aposta na agregação de valor e na prestação de serviço como diferenciais. “Com a conexão virtual, as relações de trocas de conteúdos proporcionaram o contato direto com as fontes. No entanto, diante de tanta informação, o leitor fica perdido e pode se alienar”. Seleme expôs opinião semelhante a do executivo do Estadão. Segundo o diretor de O Globo, a internet tem a vantagem de ser rápida, mas o público prefere acompanhar análises e informações mais aprofundadas no impresso.

Fonte: Comunique-se   
Acessado em 25/07/2012